segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Golpe 2016: A manipulação da mídia e o ódio de classe

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Vitor Suman em 14/10/2016
Vivemos hoje em uma republiqueta de fundo de quintal. Sofremos, sim, um golpe parlamentar, apoiado pela mídia e por grande parte do povo que – em suma – costuma apenas ler as manchetes e não quer saber se o que está sendo dito é a verdade. Estamos, como um povo, sendo manipulados e colocados à mercê das vontades de quem sempre mandou no país.
Estamos vivendo em um país sem verdades. Um país que, de seus 516 anos de história ocidentalizada, viveu 400 escravizando outros povos. Está em nosso sangue – que muitos gostam de acreditar que é europeu – e em nossas almas (já há tempos vendidas) o ódio às classes mais pobres. Mesmo que nos recusemos a aceitar, é assim que vivemos, e é contra isso que temos de lutar diariamente.
Precisamos tomar cuidado com o tipo de pensamento que estamos tendo. Um país, assim como uma pessoa, é responsável por suas crenças e convicções. E é o responsável por aquilo que passa adiante, para seus filhos e netos. É a mesma coisa. É o mesmo princípio.
E hoje, o que o Brasil passa adiante, para seus filhos, é o ódio. O puro ódio entre as classes, velho conhecido de quem sempre esteve do lado mais fraco dessa equação.
Hoje, o que é mais importante de tudo, é não ser tachado de petista. O medo do PT, sempre existente nas elites brasileiras, que – sim – são e sempre foram os comandantes dessa porra toda, exceto durante os anos que se passaram entre 2002 e 2014. Por medo de ser chamados de petistas, vestiram a “amarelinha” e não quiseram pagar o pato. Por medo de ser chamados de petistas, gritaram a plenos pulmões “tchau, querida”, em uma exímia exibição de machismo absurdo. Por medo de serem chamados de petistas, foram manipulados pelos poderes elitistas que sempre comandaram o país. E agora vamos, sim, pagar o pato. Você e eu. Direita e esquerda. Burros e inteligentes. Pobres e classe média. Esquerdopatas e coxinhas filhos da puta.
Em 2014, tivemos uma eleição cheia de intrigas e reviravoltas. A morte do Eduardo Campos, forte candidato à Presidência, mudou a história do pleito. Ao final do 1º turno, todo mundo acreditava que Marina Silva, sua candidata à vice, fosse disputar com Dilma Rousseff a vaga no Planalto. Mas a “milagrosa” ascensão de Aécio Neves o levou para a segunda fase das eleições, contra a líder Dilma.
Deste momento em diante, Dilma falou sobre os seguintes pontos que seriam prioridade em seu novo governo:
1) Regulamentação da mídia;
2) Reforma política;
3) Distribuição de internet gratuita para 100% dos municípios brasileiros;
4) Ampliação do Pronatec e do Ciência Sem Fronteiras;
5) Combate à violência contra a mulher;
6) Ampliação do Minha Casa, Minha Vida (com revisão da renda mínima para inclusão, que era de R$5 mil/mês);
7) Valorização e fortalecimento do Mercosul, da Unasul e da Celac, todas entidades que excluem os EUA de seus interesses na América do Sul;
8) Sugestão de reformas no Banco Mundial e no FMI;
9) Criação do Sistema Nacional de Participação Social, que traria mais representatividade ao povo brasileiro;
10) Combate à corrupção, com a criação de leis para punir agentes públicos que enriquecessem fora de seu padrão salarial, leis para permitir a perda de propriedade ou bens adquiridos de forma ilícita, leis para agilizar o julgamento dos processos de desvio de dinheiro público, leis que colocassem os políticos em foro comum, ao invés de foro privilegiado;
11) Reforma tributária, que taxaria os lucros e dividendos dos ricos, milionários e bilionários do país, para equalizar o pagamento e distribuir melhor a conta.
Com essas questões, Dilma irritou a quem não podia: a elite brasileira, que estava lado a lado com o governo entre 2002 e 2014, os anos de maior lucro dos Bancos e dos investidores na história do país.
Irritou os poderosos donos de concessões de rádio e televisão – aquela dúzia de famílias que é dona de todos os meios de comunicação de grande porte do país. Primeiro cortando verbas de publicidade, depois prometendo regular o meio, rever as concessões… Nesse momento, a mídia – com o cu na mão e vendo que as gordas tetas governamentais não mais vos alimentariam – começou a se utilizar de técnicas de guerrilha, praticando o terrorismo eleitoral, dizendo que o dólar ia subir e que a crise ia chegar e pegar todo mundo. Houve até revista panfletando uma capa mentirosa no dia anterior à eleição, tentando virar o jogo aqui em São Paulo.
Irritou os velhos lobos da política brasileira, que – diga-se de passagem – é comandada pelas mesmas pessoas desde que a família real portuguesa pôs os pés aqui em 1808. Ganhou o ódio das 15 famílias que detém 5% do PIB nacional. (Em tempo, já ouviste falar de injustiça social? Já entendeu o que é isso? Procure saber, busque conhecimento)
Irritou os chapas do Tio Sam, que viram os acordos multilaterais de comércio que o Brasil firmou na América do Sul, na América Central, na Ásia, na África… sempre excluindo a participação deles. Nunca defendeu os interesses de outra nação que não fosse o Brasil. Nunca defendeu os interesses de outrem, que não os do povo brasileiro.
Irritou os juízes e magistrados, negando-lhes um aumento de até 78%. (Volto a perguntar, já entendeu o que é injustiça social?)
Irritou a Fiesp e os empresários, quando vetou a reforma trabalhista e a aprovação da Lei da Terceirização.
Irritou todos os envolvidos na palhaçada toda que chamamos de Congresso Nacional quando vetou o financiamento privado de campanha.
Recusou-se a negociar com Eduardo Cunha e seus 300 deputados.
Deu liberdade à Polícia Federal para realizar suas investigações com autonomia.
Não aceitou perdoar a dívida de R$2,5 bilhões que as empresas de planos de saúde têm com o governo.
Não aceitou perdoar a dívida de R$4,8 bilhões que os times de futebol apenas da primeira divisão do campeonato brasileiro têm com o governo.
Não aceitou perdoar os R$358 milhões em impostos devidos pela Rede Globo aos cofres do governo.
Depois disso tudo, ainda vimos gravações telefônicas entre membros da alta casta do PMDB negociando uma forma de tirar a Dilma e colocar o Michel (golpista), para fazer um grande pacto nacional com o Supremo, e delimitar a Lava-Jato onde está, para as investigações pararem por aí.
Hoje vemos políticos, todos eles com rabo preso (direta ou indiretamente) com as famílias mais ricas e a iniciativa privada, dizendo que o PT quebrou o país e eles estão concertando (escrito errado mesmo, já que educação nunca foi o nosso forte). E isso é a mais absurda mentira que pode ser contada.
Somos hoje a 9ª economia mundial. Éramos a 14º em 2001. No ranking dos países mais endividados do planeta, estamos em 40º lugar.
Devemos 66% de nosso PIB. Em 2001 devíamos 80%.
Os EUA devem 104% de seu PIB.
A Europa, onde corre o euro, deve 90% de seu PIB.
O Japão – pasmem – deve 220% de seu PIB.
A Alemanha deve 71%.
A Inglaterra, 89%.
A França, 96%.
A Itália, 132%.
O Canadá, 91%.
Não estamos devendo nenhum realzinho ao FMI, pelo contrário, temos dinheiro investido no FMI. Temos $370 bilhões de dólares em reservas internacionais, um número muito maior do que o de qualquer outro país citado acima.
Nunca houve tanto dinheiro brasileiro sendo investido ao redor do mundo. Seja nos EUA, em Cuba, na Suécia ou onde for.
A Petrobras estava “quebrada” até outro dia. Hoje já é a segunda empresa mais valiosa da Bolsa com R$211,64 bilhões em valor de mercado. Qual das duas informações é mentira? Qual das duas informações foi passada a você como verdade, e você nem foi lá pesquisar para saber se era mesmo?
Isso sem contar que, nos anos de 1990, 300 crianças morriam de fome por dia. Hoje esse número é inexistente. Volto a fazer a pergunta da injustiça social.
E hoje, todo esse povo, a Globo, as 15 famílias mais ricas, o Tio Sam, a Fiesp, o STF, os políticos corruptos, e a mídia em geral, quer que você ponha a culpa no PT, que você odeie a Dilma, que você odeie o Lula, para que possam voltar o establishment ao que ele era antes.
Vão cortar o dinheiro de seu bolso. A CLT, o salário mínimo, a aposentadoria, a periculosidade, vão aumentar a jornada de trabalho… e você é quem vai pagar. Junto comigo. E com as crianças nordestinas que não morrem mais de fome. Só quem não vai pagar, meu amigo, são as 15 famílias mais ricas, que detém 5% do PIB nacional.
Vão te tirar o direito à educação. O direito à saúde. Quem puder pagar, vai pagar. Quem não puder, vai morrer burro. Vamos andar para trás de novo.
Se você chegou até o final deste texto, espero que tenha entendido e deixado o ódio de lado, apenas por um momento, porque aqui não estou defendendo um lado ou outro.
Estou apenas explicando porque que o golpe é um golpe. Um golpe parlamentar que segue as diretrizes da lei. Exatamente do mesmo jeito que Hitler fez nos anos de 1930. Procure saber sobre a Lei do Empoderamento de 23 de março de 1933.
A vida é cíclica. E para todo mundo que acha que agora o país e a vida vão melhorar, sinto lhe informar, você está extremamente enganado. A não ser que, para você, melhora seria tirar a Dilma, depois tirar os pobres, depois tirar os direitos adquiridos do povo, e por aí vai.
Porque vocês foram enganados a acreditar que tiraram a Dilma e o PT do poder. Mas vocês não fizeram nada, absolutamente nada, porque vocês não têm poder para tirar ninguém de lugar nenhum. Vocês foram manipulados.
Vitor Suman é jornalista, músico e beatlemaníaco.

saiu: limpinhoecheiroso.com

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