sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Jovem relata agressão e tortura após ser colocado em porta-malas por PMs

Família está apavorada e pensa em se mudar de condomínio em Itinga; caso se tornou público após vizinho divulgar vídeo na internet
Moisés é colocado em porta-malas de Voyage por policiais e levado para matagal
(Foto: Reprodução YouTube)
O serralheiro Moisés Silva Gonçalves, 18 anos, ainda exibe no corpo as marcas das agressões sofridas por dois policiais na quarta-feira (24). O tempo tratará das cicatrizes físicas, mas as lembranças daquela tarde de terror dificilmente serão esquecidas. "Pensei que fosse morrer. Foi um momento de terror", conta a vítima, que foi espancada por dois policiais no Condomínio Quinta da Glória, em Itinga, Lauro de Freitas, onde vive com a família.
Colocado no porta malas de um carro, foi levado para um matagal onde voltou a receber murros e golpes com uma barra de ferro. Depois de ser apresentado na Delegacia de Itinga, foi liberado após ser constatado que não era o bandido que os policiais procuravam, não possuía passagem pela polícia, nem mandado de prisão em aberto.
Moisés mostra sinais de agressão (Foto: Gil Santos/CORREIO)
Após todo o drama vivido, a família está amedrontada. Até o momento, a vítima não fez exame de corpo delito, nem prestou queixa na Corregedoria da Polícia Militar. A mãe da vítima está tão apavorada que pensa até em se mudar dali com a família. O caso só se tornou público porque um vizinho filmou toda a ação da polícia no condomínio e divulgou no YouTube.
Moisés conta que tinha ido visitar uma vizinha idosa na tarde de quarta-feira (24). Já dentro do prédio, ouviu uns passos fortes vindo atrás dele. "Quando olhei, vi dois homens se aproximando. Já foram me esticando pela camisa e começaram a me bater e perguntar por um traficante. Me deram murros, me jogaram no chão, pisaram em minha cabeça, tudo isso porque não queria entrar na mala do carro", conta o serralheiro, se referido ao Voyage branco que aparece nas imagens divulgadas no YouTube. Os policiais não estavam fardados nem usavam uma viatura padronizada.
Desesperado, Moisés começou a chamar pela mãe, que estava em casa lavando roupas na hora. "Eu só ouvi os vizinhos gritando: 'Jaci, Jaci, vão matar o seu filho'. Foi então que saí desesperada com minha nora, que tem um mês de parida. Descemos correndo para ver o que estava acontecendo. Quando vi meu filho algemado e ia me aproximando, o policial apontou uma arma pra mim e disse: 'volte, volte'", recorda a mãe do jovem, que preferiu não se identificar. Logo em seguida, ela viu o filho ser colocado dentro do porta malas e seguir para um destino incerto.
De lá, Moisés conta que foi levado para um matagal, onde começou uma nova sessão de espancamento. "Depois jogaram álcool na minha cabeça e no meu corpo todo e diziam que iam me matar. Me botaram na mala de novo e seguiram. Quando paramos de novo foi no fim de linha de Itinga. Lá, em um estacionamento, me tiraram da mala. Me deram água para lavar os ferimentos, mudaram as algemas para frente, me colocaram no banco de trás do carro e me levaram para a delegacia de Itinga", relata.
Ao chegar na delegacia, duas horas depois de ser colocado no porta malas, um alívio. A mãe dele estava lá, em busca do paradeiro do filho. Na unidade, ele diz que pegaram os dados dele, perguntaram o que tinha acontecido e o liberaram.
Veja o depoimento de Moisés:
Em nota, a Polícia Milita informou que, de acordo com informações da 81ª  Companhia Independente de Polícia Militar (Itinga), por volta das 17h, policiais militares da Inteligência da unidade foram até Condomínio Quinta da Gloria cumprir mandado judicial de busca e apreensão, determinado pela 1ª Vara Crime de Lauro de Freitas, contra Marcelo Santana de Jesus, conhecido como "Marmelo”. Ao chegarem ao local, os militares não encontraram o acusado. Em seguida, os policiais receberam uma denúncia anônima de que no mesmo prédio estava escondido um homem conhecido como "Chuck", o qual é acusado de ter cometido um homicídio no bairro da Ribeira.
A nota informa que os militares abordaram o suspeito e informaram que ele seria conduzido para a delegacia para averiguações. Mesmo tendo resistido, o homem foi conduzido para a delegacia de Itinga, onde foi identificado como Moisés Silva Gonçalves, porém não havia acusação contra o suspeito, sendo em seguida liberado.
A ocorrência foi registrada na 27ª delegacia. Com relação aos procedimentos técnicos adotados pela guarnição, Moisés Silva Gonçalves poderá se dirigir a Corregedoria da Polícia Militar para formalizar a denúncia, onde os fatos serão analisados formalmente. 
saiu: www.correio24horas.com.br/

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