terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

CULTURA AFRO ENCHE DE CORES E AXÉ O CIRCUITO MESTRE BIMBA

Cultura afro enche de cores e axé o Circuito Mestre Bimba
O Bloco Afro Arte Kizumba, fundado em 2015 pela professora Gisela Santos é o único bloco afro a desfilar no Circuito
É sabido que historicamente a comunidade do Nordeste de Amaralina se confunde com a trajetória do povo negro. Bairro popular e como tal, sempre colocado à margem e relegado ao segundo plano pelo poder público, a região pode ser considerada uma comunidade afrodescendente. Não somente pelo grande contingente de negros no bairro, mas sobretudo pela cultura, hábitos e identidade do povo local.
A origem do bairro do Nordeste de Amaralina está diretamente ligada à comunidade de pescadores do Rio Vermelho. Povo humilde, em sua maioria negros, que tiravam do mar o seu sustento. Quando no início do século XX o Rio Vermelho começou a ser cobiçado pela burguesia soteropolitana, os pescadores acuados começaram a migrar para as bandas de Amaralina. Acontece que Amaralina já havia sido loteada por grandes proprietários (entre eles a família Amaral, que deu origem ao nome do bairro) restando somente aos pescadores se abrigarem nas partes mais altas, onde hoje existe o circuito Mestre Bimba. Posteriormente, com o aumento da população, a comunidade foi se estendendo e formando novas invasões originando o que posteriormente seriam o Vale das Pedrinhas, Chapada e Santa Cruz. Lá instalados, a comunidade ali abrigada encontrou no lugar um excelente ponto para bater o seu candomblé, jogar sua capoeira dentre outros costumes trazidos pelos africanos e aqui “celebrados” pelo povo negro.
De acordo com o último Mapeamento de Terreiros de Salvador, realizado pelas Secretarias Municipais da Reparação e da Habitação, em parceria com o Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, existem hoje no Nordeste registrados 12 terreiros, digo registrados. Mesmo com a forte entrada das igrejas neopentecostais e perseguidos pela intolerância o povo de santo resiste. Grupos de Capoeira e rodas de samba também estão intrinsecamente ligados ao bairro. Não é à toa que Mestre Bimba foi escolhido para emprestar o seu nome ao circuito do carnaval do bairro. Baianas de acarajé espalham seus tabuleiros pelas ruas do povoado.
Ela vem no som da chuva / Dançando devagar seu ijexá / Senhora da Candelária, abá / Pra toda a sua nação ioruba (Mariene de Castro)
Gisele Santos ou Professora Gisele, como é conhecida na comunidade, há quase 30 anos desenvolve um trabalho social no bairro. O Grupo Arte de Dançar é formado por crianças de dentro da comunidade que vivem em áreas de risco. O projeto tem como objetivo elevar a autoestima das crianças e jovens da região, além de enaltecer os valores culturais afrodescendentes na comunidade. A professora Gisele, fundadora e coordenadora do projeto, conta que começou tudo somente com dois alunos, sem nenhuma estrutura ou qualquer tipo de contribuição do poder público. “Eu comecei a dar aula lá no Beco da Cultura, onde eu ia somente com meu corpo que é o meu instrumento de trabalho. Não achava apoio de ninguém. Fundei o Arte de Dançar para fortalecer mais ainda esse trabalho e dar oportunidade a esses jovens. Hoje formo alunos multiplicadores da arte. É muito difícil tocar um grupo de dança sem apoio governamental. Até me emociono quando falo...Somos eu e meus alunos”, relata a emocionada educadora que iniciou a carreira como professora voluntária. Sobre o fato de optar pela dança afro, Gisele é taxativa: “Tomei aula de várias modalidades, inclusive fiz Balé clássico. Mas me identifiquei foi com a estética afro. Porque além de firmar a minha força como negra dentro da comunidade, é a minha linha e de meus ancestrais. Minha família toda é negra, então por que vou trabalhar em outra linha? Sou negra, empreendedora, guerreira e batalhadora. Venho das raízes africanas”.
saiu: www.nordesteusou.com.br

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