Foto: Reprodução / Facebook
A 39ª edição da Noite da Beleza Negra, que tem como
objetivo eleger a Deusa do Ébano, recebe pela primeira vez uma candidata
estrangeira. Sheryland Neal, que chegou a Salvador na última
sexta-feira (5), é norte-americana e está muito feliz com a oportunidade
de participar do concurso. Em entrevista ao Bahia Notícias, a
estrangeira contou que conheceu o Brasil em 2016, em uma viagem junto ao
seu grupo de percussão "Timbeleza", e passou uma semana no Rio de
Janeiro antes de vir para a capital baiana. Sheryland conta que conheceu
o concurso depois que seu grupo voltou aos EUA e ela decidiu ficar mais
duas semanas em solo baiano. A norte-americana queria conhecer mais
sobre a cultura local e ficou encantada com a Rainha Ilê Aiyê: “Enquanto
eu estava em Salvador, eu fui ao Ilê Aiyê e vi a rainha se apresentando
no palco. Eu estava maravilhada. Eu nunca vi alguém tão linda e alta, e
forte, e graciosa... Eu estava extasiada. Eu peguei minha câmera e
comecei a gravar e chorei. Provavelmente eu parecia meio estranha,
porque um homem veio até mim e me perguntou em quatro línguas por que eu
estava chorando. Eu expliquei que era porque ela era linda demais. Ela
parecia comigo! Foi quando eu soube sobre o Beleza Negra. Eu fiz algumas
aulas de dança em um estúdio do Pelourinho onde eu pude trabalhar o
tipo de dança que as rainhas (do Ilê) dançam. Eu era bem ruim nisso, mas
quando eu voltei pra casa continuei estudando e treinando, tentando
imitar os movimentos. Eventualmente, eu fiquei confortável”. Com relação
à decisão de participar do concurso, Sheryland conta que nem ao menos
sabia que poderia se inscrever: “Eu decidi tentar ser a Beleza Negra
porque eu estava com a Timbeleza em um workshop de percussão e o líder
do evento, um brasileiro, me viu dançando como as rainhas e disse: 'Está
muito bom! Você devia tentar ser a Beleza Negra'. Eu achei que
estrangeiros não podia competir, mas depois de pesquisar na internet,
pegar recomendações e ir perguntando, eu encontrei as inscrições e
decidi participar da competição. Eu não estava esperando ser aceita.
Isso fez meu dia!”. Jaci Jesus, uma das produtoras da Noite da Beleza
Negra, contou ao BN que a participação da estrangeira é uma experiência
nova para o evento e avaliou que isso é muito bom para o concurso. Ela
também afirmou que não existe nenhum tipo de impedimento com relação a
pessoas de fora de Salvador ou até mesmo do país: “Desde que optamos por
fazer a inscrição online não tivemos nenhuma restrição com relação às
meninas. Em 2016 começaram as inscrições online. Quando era presencial
nos tínhamos uma quantidade bem significativa de inscrições, mas com o
online ficou maior ainda. Esse ano mesmo nós tivemos 10 candidatas de
fora de Salvador, na verdade, 11 com a norte-americana”.
Sheryland já em Salvador durante ensaio do concurso | Foto: Reprodução / Facebook
Para o concurso, Sheryland estudou a história do Ilê e foi só
elogios à instituição: “O Ilê Aiyê tem feito um ótimo trabalho em
apresentar a herança africana/negritude como algo pelo que você não deve
se envergonhar – fazendo isso se tornar aceitável para aqueles que
foram ensinados por gerações que a negritude é algo para se ter pena ou
inferioridade”. Questionada se acha que pode ser prejudicada por não ser
brasileira, a norte-americana admitiu que ainda sabe pouco o português,
e como utiliza um aplicativo para aprender a língua daqui o sotaque
dela pode ser muito diferente, atrapalhando eventualmente a compreensão
de algumas palavras que podem ser importantes no decorrer do concurso.
Mas mesmo assim a candidata não desanima e identifica que sua origem
étnica falará mais alto na competição: “Quando eu fui apresentada para a
competição Beleza Negra, eu falei/entendi muito menos português do que
eu sei agora. Isso prova que compreensão, respeito e apreciação da
cultura pode transcender a linguagem verbal usada para descrever algo.
Ilê Aiyê, em sua base mais pura, reconhece sua herança africana. É essa
herança africana que eu reconheço em meus tios, tias, irmão, pais, etc.
Está em nosso gosto por comida, em nossa resposta à música... É a
africana que há em mim que não tem fronteiras. É o africano em Salvador
que não tem fronteiras. Existem descendentes africanos em todo mundo. De
alguma forma, é a África que é realmente sem fronteiras”. Sheryland
disse ainda que está muito animada com a oportunidade: “Será muito
trabalhoso porque eu tenho muito a aprender ainda, mas eu não trocaria
essa experiência por nada”. Para vir ao Brasil para o concurso,
a candidata decidiu criar uma campanha de financiamento coletivo para
ajudá-la com as despesas (veja aqui),
como passagens, hospedagem, alimentação, seguro de viagem e
documentação. Até o momento, a estrangeira já conseguiu US$ 960. A meta é
chegar a US$ 5 mil.
saiu: bahianoticias.com.br
Sheryland já em Salvador durante ensaio do concurso | Foto: Reprodução / Facebook
saiu: bahianoticias.com.br
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