segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A negociação é impossível

Somente Lula saberia encontrar a saída. Mas... 

Lula
Como transformar o Brasil em uma imensa Vila Euclydes?


Na modestíssima moldura da Operação Misericórdia pelo Brasil proponho a leitoras e leitores um momento de reflexão. Na sua página desta edição, diz Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi e nosso colunista, por quem tenho apreço irrestrito, que somente Lula de volta à Presidência pode recolocar o País nos trilhos despois dos desmandos praticados pelos golpistas.
A questão que apresento é a seguinte: poderá o futuro governo, por mais responsável e democrático, reaver o pré-sal entregue ao capital estrangeiro a preço vil? No caso, o irreparável já terá sido cometido.

Outros descalabros poderiam ser cancelados, está claro, como a nova lei trabalhista que acaba de entrar em vigor e que, por enquanto, nos devolve a tempos extraordinariamente remotos. O comportamento das gangues no poder não surpreende, aí estão elas para acentuar a cada exceção a medievalidade do País.
Sei que haverá dificuldade para a aplicação da nova lei, graças à resistência de honrados juízes do Trabalho dispostos a tanto, mas o próprio presidente do TST, o casto Ives Gandra Martins Filho, afirma que ela se destina a promover o emprego, enquanto o presidente ilegítimo enche a boca com a palavra modernização.
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Assistimos a mais uma prepotência inominável que a propaganda midiática não se envergonha em exaltar, pelo contrário, se orgulha. Não me permitiria contradizer Marcos Coimbra: sim, Lula poderia ser o presidente redentor, dentro dos limites do possível para o curador da massa falida.
Pergunto, entretanto: por que quem agiu tão à vontade para realizar os soturnos propósitos da casa-grande haveria agora de abandonar a sua empreitada de bandeira embrenhada cada vez mais no passado?

Recomenda-se analisar com frieza os dados da realidade. Os golpistas fazem o que bem entendem sem maiores protestos, as ruas aparentemente vivem a normalidade, o povo trafega entre a inércia atávica e o medo tradicional.
Um tribunal de segunda instância, com o óbvio beneplácito do STF, prepara-se para confirmar a condenação sem provas de Lula, de sorte a alijá-lo de vez do embate eleitoral.

E o pleito se dará? Quem chegou até aqui impunemente renunciará a prosseguir no caminho da definitiva demolição do Brasil? Os possíveis candidatos da casa-grande não têm a mais pálida chance.
O ministro Luiz Fux – Chico Anysio diria dele “eis um homem de testa larga” – pergunta: “Pode um candidato denunciado concorrer, ser eleito, à luz dos valores republicanos, do princípio da moralidade das eleições, previstos na Constituição?”
Fux, indicado por Dilma Rousseff, foi espectador impávido do impeachment de quem o escolhera, quando a Constituição que cita foi rasgada, e hoje admite que um ex-presidente seja condenado sem provas. Poderia ele integrar a Suprema Corte de um país democrático e civilizado?

De todo modo, a revista Veja, qualificada porta-voz da casa-grande, recomenda o voto em um “candidato de centro”. Que significa de centro? Se for ao sabor de um critério europeu, aqui se trataria de um comunista. Vivemos, porém, em estado de absoluta sandice, com a participação compacta de hipócritas e beócios.
Quem imagina Luciano Huck ou João Doria na poltrona presidencial exibe toda a sua penúria mental não menos que a revista Veja. Quem enxerga no presidente Macron um notável exemplo não entendeu, ou finge não entender, que o presidente francês é um neoliberal convicto, e que o neoliberalismo é de extrema-direita.

Na circunstância, reafirmo não acreditar nas próximas eleições e sim temer um golpe dentro do golpe, sacramentado pelo STF de Fux. É do conhecimento até do mundo mineral não haver saída sem uma forte pressão popular, disposta a enfrentar quaisquer riscos, levada às ruas por quem confere ao presidente ilegítimo 3% de aprovação e coloca Lula na ampla dianteira nas pesquisas eleitorais.
E Lula é o único líder capaz de mobilizar a maioria dos brasileiros contra o domínio das quadrilhas. Bastaria recordar as greves do final da década de 70 a transformar o Brasil em uma imensa Vila Euclydes. Quem sabe um crescimento ainda maior nas pesquisas pudesse incitar o ex-presidente à ação.

O próprio Lula, amigo incondicional faz 40 anos, me diz ser sempre necessário sonhar. O presidente dos metalúrgicos de São Bernardo e Diadema sabia como inflamar os trabalhadores, sem deixar de funcionar junto aos patrões como arguto negociador. Mas hoje, sejamos claros uma vez por todas, a negociação é impossível.

saiu:www.cartacapital.com.br

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