terça-feira, 27 de setembro de 2016

Cosme e Damião: saiba onde comer caruru de graça em Salvador

Dia festivo dos santos gêmeos é comemorado nesta terça-feira (27). Hoje começa a programação religiosa

Setembro está acabando e você ainda não comeu um caruru? Nesta terça-feira (27), é comemorado o dia festivo dos santos gêmeos Cosme e Damião e é uma oportunidade de concretizar o desejo de comer comida de dendê. O CORREIO fez um levantamento de onde será servido gratuitamente o caruru em Salvador. Apesar dos convites escassos, ainda existem pessoas que se dispõem a cozinhar para muitas pessoas e ofertar a comida em casa.
Lá na Feira de Sete Portas, a partir do meio-dia, quem quiser pode passar na Barraca Chapéu de Couro, de André Nery. Ele já está nos preparativos do caruru de 700 quiabos, que já é tradição há 20 anos. “É para todo mundo que chegar na feira. Isso aqui fica cheio de gente, tem as pessoas que já vêm porque sabem que eu ofereço”.
Prato tradicional de caruru dos santos gêmeos 
(Foto: Divulgação)
O caruru oferecido por ele, que é babalorixá, é completo: tem acarajé, vatapá, inhame, farofa, milho branco, pipoca, batata doce, feijão fradinho, ovos e rapadura. A devoção pelos santos gêmeos começou por causa do seu nascimento. André veio ao mundo no dia 28, um dia depois que a mãe comeu o tradicional caruru.
“Ela comeu no dia 26, aí teve uma dor de barriga dia 27 e eu nasci no dia seguinte. Aí veio a devoção. Desde pequeno minha mãe oferecia por mim e depois eu mesmo comecei a fazer”, conta. É só chegar a partir de 12h que a comida já vai estar disponível.
Também ao meio-dia, no bairro da Cidade Nova, o aposentado Brasilto Arcanjo Rodrigues, 67, vai promover mais um ano da tradição que já dura quase 40 anos. Agora, em tamanho reduzido, por causa de problemas familiares.
Antes, o caruru era feito com 2 mil quiabos, mas esse ano a expectativa é de que sejam cortados entre 500 e 700. “Esse ano que vou fazer com 500 quiabos. Minha mulher está doente, eu perdi minha mãe e agora minha filha está assumindo para ajudar”, contou. Mesmo com a dificuldade, ele garante que vai manter a tradição por mais tempo. “Mesmo menor, a gente vai continuar fazendo”, afirma.
Fila do SUS
Mas em Nazaré, a tradição da Família Maia continua do mesmo tamanho. Cinco irmãs começam nesta segunda-feira (26) a cortar os 2 mil quiabos que vão compor o prato.  E a fila é grande para quem deseja comer o caruru de graça.
“Qualquer pessoa que entre na fila come o caruru. É uma fila quase igual ao do SUS, a gente não consegue saber quantas pessoas comem”, conta Cássia Maria de Santana Maia, 54. Mas é bom saber que a fila é organizada e não tem tumulto para não causar transtorno para a família, que abre as portas para receber as pessoas.
Ela, junto as irmãs, mantém a tradição que começou com a avó, há mais de 50 anos. “Começou antes de eu nascer. A gente faz é manter a tradição que já existia na família. Vai passando dentro da família. Minhas filhas, as sobrinhas já estão começando e participam também. Enquanto tiver comida, a gente vai dando”, diz Cássia.
O dinheiro é arrecadado com amigos que sabem e querem ajudar a manter a tradição. “Cada um dá o quanto pode, a gente se junta e faz”.
Tradição e crise
Chegando no Engenho Velho de Brotas, o caruru da professora Jacira Cedraz, 76, também já é conhecido. Há mais de 30 anos, ela faz a alegria de quem passa pelo final de linha do bairro na noite do dia 27. Lá, tudo é feito como manda a tradição. “É um caruru de promessa mesmo, eu faço o caruru dos sete meninos. Primeiro é servido para os santos, depois para os meninos, que comem juntos, com as mãos e depois é servido para todos”, conta.
Jacira conta que hoje em dia às vezes é até difícil achar as crianças para comer a oferta. “Agora a gente não está nem achando as crianças porque as mães viraram evangélicas e não querem deixar os meninos virem comer”, afirma.
Essa também é a justificativa para alguns vendedores, que reclamam das vendas das iguarias. “As igrejas quebraram muito as pessoas. Agora, as pessoas são evangélicas e não fazem mais o caruru”, diz o vendedor Raimundo Ferreira, que há 20 anos trabalha na Feira das Sete Portas e afirma que as vendas estão diminuindo cada vez mais.
Mas também há quem fale que a crise econômica está contribuindo para a queda na oferta. A comerciante Sandra Sena não pode deixar a tradição de lado, mas, agora, apenas distribui as quentinhas com o caruru entre crianças na rua.
“Antes enchia a casa, mas agora isso acabou. Era um caruru grande, mas a crise fez diminuir a quantidade, mas eu não deixo de fazer algo por eles (os santos). Se não consigo fazer o caruru, pelo menos distribuo balas”, conta.
Quem não conseguir comer nesta terça-feira (27), pode matar a vontade na quinta-feira (29), com o tradicional caruru da Feira de São Miguel, localizada na Avenida José Joaquim Seabra na Baixa dos Sapateiros.
Endereços do caruru: De André: Feira das Sete Portas, boxe 82, Barraca Chapéu de Couro, 12h
De Brasilto: Rua 2 de Fevereiro, s/n, Cidade Nova, 12h
Da Família Maia: Rua Fonte da Vovó, 60, Nazaré, 19h
Quem é quem no prato do caruruO prato de Cosme e Damião reúne oferendas que são destinadas a diversos orixás, segundo o babalorixá André Nery. Veja abaixo o que significa cada item:
Quiabo: Xangô 
Acarajé: Iansã
Inhame: Ogum
Farofa: Ogum e Exu
Milho Branco: Oxalá
Pipoca: Omolu
Batata doce: Ossain e Oxumarê
Ovos: Oxum
Feijão fradinho: Oxum
Feijão preto: Omolu

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