terça-feira, 19 de julho de 2016

Família contesta versão de suicídio de adolescente morto na Case CIA

Mãe e tia da vítima disseram que o reconhecimento do corpo do adolescente foi feito por um funcionário da instituição
Bruno Carvalho, 16, morto na Case/CIA (Foto: Reprodução)
Em denúncia ao CORREIO, Vanilza Carvalho, 41, tia do adolescente Bruno Carvalho, 16, encontrado morto dentro da Comunidade de Atendimento Socioeducativo (Case/CIA) na quarta-feira (13), disse que a família não foi responsável por fazer o reconhecimento do jovem no Instituto Médico Legal (IML), em Salvador, e que só viu o corpo de Bruno já no caixão durante o velório, na cidade de Teixeira de Freitas. Segundo ela, o reconhecimento foi feito por um funcionário da Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac) de prenome Marcelo.
Ainda segundo a tia, na quinta-feira (14), ligaram para Maurisa Carvalho, mãe de Bruno, e informaram sobre a morte. A mãe chegou a questionar as circunstâncias, já que o filho não tinha nenhuma doença. “Contaram que acharam ele morto e mandaram a gente ir fazer o reconhecimento”, disse Vanilza. Mãe e tia saíram da cidade ainda na quinta-feira e chegaram em Salvador na manhã de sexta-feira (15), indo para o IML logo depois. “Em momento nenhum vimos o corpo. Um funcionário reconheceu e minha irmã perguntou se o rosto dele estava machucado e ele disse que estava perfeito”, denunciou a tia. 
Maurisa conta que pediu para ver o filho e um funcionário do IML informou que ela poderia vê-lo, mas que o local estava muito cheio e era preciso esperar. A mãe conta que nesse intervalo foi chamada para ir ao cartório assinar o atestado de óbito de Bruno e que, ao voltar, Marcelo, o funcionário da Fundac, já tinha feito o reconhecimento. Quando o encontrou, ele anunciou “eu reconheci, era ele mesmo, dona Maurisa”, conta a mãe.
De acordo com a assessoria do IML, salvo em situações em que o estado de degradação do corpo impede qualquer identificação, o reconhecimento deve ser feito pela família. Em alguns casos, quando a família alega não ter condições de reconhecer, é possível pedir que outra pessoa faça. Segundo a família, não foi o caso. Ainda conforme o órgão, o documento de liberação do corpo foi assinado pela mãe. Maurisa contou ao CORREIO que no atestado de óbito a causa da morte consta como asfixia mecânica.
Quando o corpo chegou para o velório em Teixeira de Freitas, Vanilza relata ter notado que o rosto do sobrinho estava bastante roxo, com lesões no nariz e na boca. Bruno foi sepultado na tarde de sábado (16). “Os olhos estavam muito roxos, o nariz arranhado e as bochechas vermelhas”, lembrou a mãe. 
“Depois de ver os machucados, não acredito em suicídio”, revela Maurisa. A mãe precisou ser amparada pelo marido quando viu o estado do filho. “Eu não aguentei, na hora eu gritei ‘Marcelo, você disse que meu filho estava normal’”. Segundo ela, Marcelo, que estava no velório, saiu de carro do local, levando inclusive as malas e documentos da família, que foram devolvidos posteriormente pelo conselho tutelar do município.
Procurada, a Fundac reafirmou que a liberação do corpo foi feita pela mãe e que deu assistência à família, garantindo o transporte até Teixeira de Freitas em um veículo da fundação. 
Na quinta-feira (14), a assessoria da Fundac havia divulgado que as informações apontavam para suicídio, pois Bruno foi encontrado com um lençol amarrado ao pescoço. Um socioeducador ouvido pelo CORREIO disse, no entanto, que o jovem foi espancado por outros internos. “Não acreditamos em suicídio. Ele era muito querido e sempre dizíamos isso para ele. Ele falava para a mãe que estava bem lá, que queria sair e mudar de vida”, disse a tia.
InfraçãoBruno Carvalho estava na Comunidade de Atendimento Socioeducativo (Case/CIA) há um mês, cumprindo medida socioeducativa por participar da morte de Erle Silva de Castro. De acordo com a própria mãe, Bruno ajudou a matar o rapaz, que o havia agredido após uma discussão em que os dois disputavam um celular. “Ele disse que pilotou uma moto para matar o cara, mas ele não pegou na arma”, contou a tia. A mãe conta ainda que havia outras duas ocorrências anteriores do filho, que já tinha sido apreendido por porte de maconha e por ter roubado o relógio do sobrinho de um policial.
O adolescente completou 16 anos dentro da unidade, no dia 04 de julho, no mesmo dia da mãe. “A gente tá com uma dor, eles falam que é uma casa de recuperação e as crianças saem mortas de lá. Achávamos que ele ia se arrepender do que fez. Ele dizia que ia sair de lá um homem, que ia ser alguém na vida”, conta a tia. “A gente entrega vivo num mês e recebe no caixão no outro. Só queremos saber a verdade”, lamenta Vanilza. 
ApuraçãoA direção da Fundac afastou 14 funcionários, entre socioeducadores e coordenadores de segurança, para apurar se houve omissão na Case/CIA sobre o caso de Bruno e de outro adolescente que também morreu neste mês. Foi criada uma Comissão de Apuração Disciplinar para averiguar se houve negligência no caso de agressão dos internos Bruno e Victor Santos Silva, 16 anos.
De acordo com a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), o relatório da comissão sobre a situação na unidade, a ser encaminhado para o Ministério Público Estadual, ainda não ficou pronto. A Delegacia do Adolescente Infrator (DAI), o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e o Instituto Médico Legal foram acionados para investigar o caso. A unidade atende 108 adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa e conta com uma equipe técnica de 308 funcionários, destes, 162 são socioeducadores.
saiu;ww.correio24horas.com.br

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