Em
mais uma edição, o tradicional concurso Deusa do Ébano reuniu nesta
sexta-feira, durante a coletiva de imprensa da 36° Noite da Beleza Negra
do ilê Aiyê, 15 candidatas negras e lindas, cheias de energia,
vitalidade e crenças.
Competindo
pela segunda vez e acreditando na vitória, a auxiliar administrativa e
candidata a Deusa do Ébano, Daiane de Souza Conceição, 22 anos, diz que
para a realização do sonho não há limites: “Representar o bloco que ama é
uma realização indescritível. Esse é um sonho meu e da minha família,
onde carregamos desde minha infância. Se eu ganhar o posto de rainha
será uma vitória, mas se perder, servirá de experiência para a próxima,
pois não desistirei dos meus sonhos vou tentar até o dia que virar
rainha, um dia chego lá”.
Assim
como Daiane, a candidata que vem, também, do bairro de Itapoan e
trabalha como esteticista afro, Cecília Santos, 24 anos, diz que tentar o
posto de rainha é reunir um conjunto de conteúdos da mulher negra: “Me
identifico com a proposta do concurso, que valoriza e eleva a auto
estima da mulher negra, afinal, não temos espaço em outros concursos de
beleza, por geralmente ser apenas para mulheres de perfis europeus. Não
precisamos desse perfil para sermos bonitas e valorizadas, o concurso da
beleza negra é totalmente diferente, porque não é só concurso de
estética e sim o conjunto de conteúdo que uma mulher pode ter. São
quinze mulheres negras representando uma legião de mulheres negras que
se sentem excluídas de outros concursos de beleza”, afirmou Cecília,
revelando ainda que o segredo para se ganhar o título de rainha é
simples: “Ter consciência racial da minha identidade e cultura”.
Feliz
e realizada, a rainha da Deusa do Ébano 2014, Cintia Paixão, contou que
deixará como legado a afirmação da religião, além do exemplo de
persistência: “Para as candidatas desejo que tenham muita fé,
persistência e afirmação. Eu, por exemplo, após assumir o posto de
rainha, passei a me sentir mais viva, mais mulher quando o assunto é a
minha identidade, cultura, ancestrais, religião, entre outros atributos.
Desejo passar adiante tudo para as meninas que desejam chegar aonde
cheguei. Levo de lição a persistência e que com elas seja o mesmo”.
A
estrada para Cintia foi longa e ela garante que precisou de seis anos
seguidos para chegar ao posto de Deusa do Ébano: “Desistir jamais.
Consegui na sexta tentativa, mas consegui. Colhi muitos frutos e passo a
coroa realizada. Quem me protege não dorme. Darei continuidade a minha
trajetória. Desejo a próxima Deusa que o reinado seja com muito axé e
caminhos abertos para o Ilê Aiyê,l e caminhos abertos para mim também,
claro”.
Para
este ano, pela primeira vez, as vencedoras do segundo e terceiro
lugares também irão dançar com a Deusa do Ébano, no Carro da Rainha
durante o carnaval. As três primeiras colocadas recebem ainda prêmios em
dinheiro. Já a campeã acompanhará e representará o Ilê Aiyê também em
apresentações dentro e fora do Brasil, durante todo o ano de 2015.
No
concurso, que acontece neste sábado (24), com a apresentação de Arany
Santana e Sandro Teles, na Senzala do Barro Preto, no Curuzu, às 21h, a
comissão julgadora irá analisar os trançados dos cabelos, as vestimentas
e, especialmente, a graça e a desenvoltura das candidatas na dança
afro, num dos momentos mais esperados em que as candidatas dançam juntas
com os trajes de amarrações afro, assinados pela estilista do bloco Ilê
Aiyê, Dete Lima.
O
Secretário de Cultura do Estado, Jorge Portugal, participa pela
primeira vez como jurado do concurso. Além da emoção particular, ele
assinala que a expressão “Beleza Negra” mudou um paradigma cultural e
identitário na Bahia: “Quando em 1974 aqueles garotos do ilê saíram pela
primeira vez no carnaval, ainda sob muita desconfiança da sociedade
baiana, eles estavam afirmando algo que era invisível aos olhos gerais”,
afirma, lembrando que o concurso dá prosseguimento a esse processo.
“Hoje nós celebramos a Beleza Negra, sabemos que somos bonitos, que
somos poderosos como portadores de cultura e dessa diversidade cultural
que é a riqueza da Bahia”, festeja.
A
Noite da Beleza Negra contará com trilha sonora assinada por Jarbas
Bittencourt, diretor musical do Bando de Teatro do Olodum, e cenografia
de Renata Mota. “O espetáculo terá um segundo palco e uma passarela,
seguindo a proposta de aliar um cenário conceitual fashion com a
tecnologia de modernos equipamentos visuais, para dialogar com a tão
aclamada e autêntica estética do Ilê Aiyê”, explica o diretor artístico
do evento, Elísio Lopes Jr.
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