sábado, 27 de junho de 2015

Bandidos que se passam por passageiros são o terror dos taxistas

A SSP não contabiliza casos de assaltos a táxi, mas a categoria acredita que haja pelo menos dez assaltos a taxistas por dia

A corrida do Iguatemi até Vila de Abrantes deu R$ 130. O taxista Rosenildo Almeida, 37, recebeu R$ 200 do passageiro, que estava no banco do carona. Ao dar o troco de R$ 70, ouviu um grito.
— O troco está errado. Quero o dinheiro todo!
Sem entender nada, o taxista ficou paralisado.
— Você gosta de encarar ladrão, é? Isso é um assalto, desgraça! – gritou o passageiro-ladrão, já dando uma coronhada na cabeça de Rosenildo.
O taxista teve todo o dinheiro levado pelo bandido e os comparsas: uma mulher e um rapaz de 14 anos, usados como iscas — foram eles que pediram a corrida na região do Iguatemi. Depois, pediram para Rosenildo parar nas imediações do aeroporto, onde o bandido entrou. A situação aconteceu há cerca de 15 dias. 
(Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) não contabiliza casos de assaltos a táxi, mas a categoria acredita que haja pelo menos dez assaltos a taxistas por dia em Salvador, que tem uma frota de 7.200 táxis, segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob). Em uma das ações, na quinta-feira, o taxista Antônio Carlos Silva Santos foi morto, no Stiep.
O maior perigo para os taxistas está justamente nos bandidos que se passam por passageiros e  aproveitam áreas desertas para anunciar o assalto.
Assim como Rosenildo, que trabalha em ponto de táxi na região do Iguatemi, o também taxista José Silva Santos, 59, teve uma pistola apontada para a nuca  há cerca de um mês e meio.  Ele contou que o passageiro pediu uma corrida do Iguatemi para o supermercado Extra da Avenida Paralela.  
O rapaz, bem vestido com calça social, camisa de manga polo e sapatos, sentou-se no banco de trás, o que causou estranheza a José, já que os homens têm o hábito de sentar no bando do carona. A desconfiança ficou ainda maior, quando, ao olhar pelo retrovisor, ele viu o rapaz  inquieto. “Ele se mexia, olhava para todos os lados, como se temesse algo”, disse José.
A poucos metros do supermercado, o passageiro mudou o roteiro e pediu para seguir para o Cabula. Então, depois de pegar um retorno, o passageiro encostou a pistola na nuca de José. “Foi tenso. Ele mandou apenas seguir em frente”, disse o taxista. No momento de desespero, o taxista pensou em mudar a direção para um posto de combustível, onde uma guarnição da PM estava parada.
“Cheguei a fazer menção de virar o volante, mas aí ele percebeu e disse: ‘Se você entrar no posto, estouro sua cabeça agora!’. Não tive outra alternativa a não ser continuar seguindo as ordens”, contou o taxista, que foi obrigado a parar numa concessionária de carros logo à frente e teve roubado todo o dinheiro.
Precaução
O também taxista Adailton da Purificação Soares, 35, foi assaltado duas vezes em um ano. O mais recente foi em dezembro do ano passado,  no Vale da Pedrinhas, quando um homem estendeu a mão para ele parar. 
“Ele disse: ‘Parceiro, sei que daqui até o Bonocô dá mais de R$ 20, mas só tenho R$ 20, você me leva?’. Aceitei’”, contou. Ao sentar-se no banco do carona, o passageiro encostou uma arma em sua cintura. “Aí que o comparsa dele surgiu do nada e entrou no banco de trás”, contou. Adailton foi colocado ao lado, no banco traseiro, e um dos bandidos assumiu o controle do carro. “Mas ele não sabia dirigir direito e ele e o comparsa abandonaram o táxi e fugiram com o dinheiro”, relatou.
O primeiro assalto que Adailton sofreu aconteceu em abril do ano passado, depois de ele transportar um casal e uma criança do Iguatemi para o Retiro. “Quando cheguei lá, o cara pôs uma arma na minha cintura e levou  meu dinheiro”, contou.
Após os dois assaltos, Adailton adota precauções. “Apesar de  alguns bandidos andarem arrumados, recuso algumas pessoas porque está na cara que são assaltantes. Tipo, quando vêm de galera ou usando bonés, ou roupas de marcas, com gírias”, disse.  
Sete vezes
Fazendo corridas em Salvador há 30 anos, o taxista Veríssimo Alves dos Reis, 61, já foi assaltado sete vezes. “No terceiro assalto que sofri, fiquei no porta-malas”, disse. A abordagem mais recente aconteceu há cerca de dois anos, quando pegou um passageiro em Pau da Lima. “Ele queria ir para São Caetano. Era um rapaz bem falante, bonito, bem alinhado, com o cabelo penteado no gel, acima de qualquer suspeita”, contou. “Não suspeitei de nada. Mas quando chegou no bairro, ele mandou entrar numa rua, sacou um revólver e disse: ‘É um assalto’”.
A situação não foi diferente para Washington Guedes, 39 anos. No início do ano, um homem entrou em seu táxi em frente ao GBarbosa do Costa Azul querendo ir para o Comércio. Ao chegar no destino, o homem disse: “Olhe, velho, não vou pagar não. Isso é um assalto e se tirar onda lhe dou um tiro”.
Irmão morto
O taxista José Robson Leão Souza, 39 anos, tem péssimas recordações quando se fala de violência durante o trabalho. Além de já ter sido assaltado duas vezes, ele perdeu um irmão, que também era taxista, durante um assalto. 
O último roubo foi há um ano, quando ele aceitou uma corrida do Aquidabã para a Avenida Cardeal da Silva, na Federação. Ao chegar próximo ao campus da Universidade Católica do Salvador (Ucsal), na Federação, o homem pediu que ele parasse o táxi. 
“Ele fez menção de que ia pegar a carteira, quando na verdade pegou o facão e apontou para mim. Ele levou meu celular, dinheiro, tudo”.
 Em um vacilo do ladrão, que se abaixou para procurar mais dinheiro dentro do carro, Robson conseguiu tirar o cinto de segurança e sair do carro correndo. “Ele veio atrás de mim, com o facão. Depois desistiu, quando viu que tinha muita gente na rua, e desceu para o Engenho Velho”, conta o taxista.
Robson perdeu o irmão, José Roberto, em 2008. Ele descia a ladeira do Pau Miúdo quando uma mulher chamou pelo táxi. Nesse momento, três homens entraram no carro pelo lado do carona e anunciaram o assalto.
“Eles pediram que ele descesse uma escadaria, mas ele  engatou a ré. O bandido atirou, ele perdeu o controle, bateu em um poste e invadiu uma varanda”, recorda Robson. José Roberto acabou morrendo na colisão. 
Com tantos episódios de violência, ele diz que trabalha assustado. “Ando muito assustado, a gente não quer fazer julgamento de ninguém, mas, infelizmente, a gente acaba fazendo porque roda com medo”, completou.
*Com colaboração de Amanda Palma
http://www.correio24horas.com.br/

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